terça-feira, 25 de setembro de 2007

Conceitos de beleza

La Bella Simonetta foi a modelo que Botticelli elegeu para o seu quadro "O Nascimento de Vénus", e que vemos retratada de perfil (de vestido vermelho), numa composição claramente influenciada pela virgem pintada anos antes pelo seu mestre Lippi (de azul).










Alguns anos depois, Parmigianino dá vida à "Senhora de Pescoço Longo", num claro maneirismo.
Quando estudei em História de Arte o "Nascimento de Vénus", foi-me dito que Botticelli ainda apresentava como influência algum goticismo na resolução do pescoço elevado face ao plano dos ombros. Hoje e após algumas surpresas, não me parece que isso corresponda à justiça que deve ser feita ao pintor da "graça" feminina. Penso que Botticelli apenas era mais um apreciador da estética morfológica apresentada pela mulher toscana. No estudo que apresento vemos a Simoneta de perfil e de frente, e se compararmos a distância dos planos horizontais A e B , constatamos que a distância entre o ombro e a junção do deltóide com o pescoço é bastante idêntica à proporção entre a zona ciliar e o nível do lábio inferior que intersecta o queixo. Esta morfologia particular está igualmente presente nos outros quadros, o que me parece corroborar a evidência que de gótico, Botticelli tinha muito pouco, a não ser o pendor expressionista. Esta carga expressiva, expressionista, lembra-nos que os toscanos são herdeiros da linha e do gesto dos seus antepassados etruscos. Modigliani, igualmente toscano, é um exemplo no século XX, pois retoma de uma forma perfeitamente explícita estes gestos e esta expressividade.

2 comentários:

Anónimo disse...

Olá Manuel

Tivemos uma estranha relação prof-aluno aqui há uns anos em Évora. Digo estranha não que tivéssemos conflituado ou agredido mas porque quis o acaso, dois tipos da mesma idade se encontrassem face a face nessa (por vezes) desigual relação prof-aluno.

Quando estudei no Porto fiz um trabalho, infelizmente perdido, sobre "Marte e Vénus" (este quadro está num museu escocês),numa disciplina chamada Estudos de Composição, com o inefável Eduardo Batarda. Claro, também este quadro com a inevitável Simonetta, pela qual eu próprio me apaixonei perdidamente e cuja beleza julguei ver (!) na mulher com quem contraí matrimónio...!?

Nasci e cresci numa aldeia em que o sobreiro fez parte do meu quotidiano. Ainda recordo, por vezes, o cheiro da cortiça no corpo suado, quando me atrevia chegar a qualquer ninho de gaio... aflito...(A consciência ecológica já me chegou muito tarde!)
E o que faço quando tenho possibilidade de chegar próximo de um, é passar-lhe com a mão na superfície áspera, e cheirá-la.(enfim... rituais)

Mantemos alguns pontos comuns na forma como lidamos com o projecto artístico pessoal - localmente inspirado/baseado - sem dúvida a melhor forma de escaparmos ao rolo compressor das visualidades anglo-americanas que nos chega a reboque dos processos de globalização... Se achares que é possível estabelecer pontes com uma pedagogia das artes visuais para a juventude,que de alguma forma contrabalance esste poder opressivo, convidar-te-ía para uma mesa redonda informal com os meus alunos estagiários e de licenciatura aqui em Évora. Só prometo pagar-te o almoço, ou jantar.

Um abraço
do

SEMPER QVAERENS

Leonardo Charréu

Anónimo disse...

Descobri um outro lugar para aprender com você...

Henrique Lima, Goiânia, Goiás, Brasil.