Ontem, 13 de Setembro, na FNAC do Forum Almada, mais uma apresentação do livro Canto de Intervenção, 1960-1974 do amigo Eduardo Raposo, apresentado pelo Engº João Paulo Ramôa. O Francisco Naia, acompanhado pelas violas de José Carita e Ricardo Fonseca, apresentou um excerto do recital evocativo de José Afonso, Adriano Correia de Oliveira e outros cantores de intervenção, baseado neste livro.
Participei ainda com um quadro como forma de enquadramento dos músicos, mas acima de tudo há pontos de contacto entre a minha pintura e o canto de Intervenção.
A leitura gera reflexões que indiciam traços comuns entre a canto de intervenção e a pintura
que reflexões?...
Escolha de um padrão de comunicação para o exterior, da música, poesia e pintura como forma de o artista elaborar o que sente, no encontro consigo próprio.
As circunstâncias de cada tempo histórico:
O Canto de intervenção com preocupação social
a pintura como preocupação sobre o património eco-histórico
O contexto do canto de intervenção na crise académica de 62. O aparecimento da balada dá continuidade ao fado de coimbra- da evolução de adaptação aos novos tempos com Zeca Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Poesia de Manuel Alegre e Manuel Freire “Pedra Filosofal”.
Curiosamente a minha pintura de sobreiros (Quercus suber) teve início na dinâmica de estudo na FBAUL e não começou exactamente de uma forma programada...também o Manuel Alegre diz “ O canto de intervenção, de subversão, que não nasceu de uma forma programada, mas porque houve um encontro de pessoas ligadas à poesia e à música”.
A árvore como Personagem:
Na pintura , na criação do meu universo está subjacente o mito de Apolo e Dafne- Bernini
A árvore como personagem, como símbolo dos ecosistemas destruídos, os fogos, a amazónia, as grandes florestas, a desertificação.
Na construção desta personagem é importante:
As artes performativas Teatro, dança.
A perspectiva parietal romana- O semi-círculo – o palco de Teatro incrementa o dramatismo da personagem, rodeada democraticamente pelos outros elementos da composição.
O conceito de instalação referencia a concepção da forma como se intervém no espaço expositivo/arquitectónico.
Há similitude entre o meu percurso da criação da imagem, com o percurso musical/poético de Tino Flores que nos anos 60 começa pelo Rock (Beatles) e envereda posteriormente pela musicalidade da música da sua região (Minho). Assim eu também estive ligado à BD na minha juventude e gradualmente entrei na pintura de árvores com a abstracção até enveredar pela escolha de um padrão de comunicação mais figurativo, nessa procura telúrica da minha região. Também em Vitorino “ A pura ligação à terra” é um padrão de comunicação.
A figuração tal como os temas musicais populares permitem ao artista libertar-se do papel vanguardista da procura da originalidade pura e dura e por vezes autofágica e enveredar por uma originalidade igualmente vanguardista, que passa pela criação de um universo semâtico (musical, pictórico, etc) pessoal num processo criativo que elabora na eterna procura do autor em se conhecer a si próprio.
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