Pintura de Catherine Henke intitulada a Queda.
Técnica mista com pigmentos naturais sobre papel.
Dimensão: 90 x 63 cm
Este é um dos três trabalhos que pertencem à série exposta em 2004 na Galeria 21 (Évora) e que a artista seleccionou para a exposição em Badajoz.
A Catherine deu-me a oportunidade para escrever um breve comentário sobre o seu trabalho:
São pinturas com pigmentos naturais e técnica mista que exploram o tema do corpo em queda. O mito de Ícaro convive com o nosso quimérico mundo interior dos sonhos, desse vazio onírico que se situa à margem do nosso corpo consciente.
domingo, 30 de setembro de 2007
terça-feira, 25 de setembro de 2007
Conceitos de beleza
La Bella Simonetta foi a modelo que Botticelli elegeu para o seu quadro "O Nascimento de Vénus", e que vemos retratada de perfil (de vestido vermelho), numa composição claramente influenciada pela virgem pintada anos antes pelo seu mestre Lippi (de azul).
Alguns anos depois, Parmigianino dá vida à "Senhora de Pescoço Longo", num claro maneirismo.
Quando estudei em História de Arte o "Nascimento de Vénus", foi-me dito que Botticelli ainda apresentava como influência algum goticismo na resolução do pescoço elevado face ao plano dos ombros. Hoje e após algumas surpresas, não me parece que isso corresponda à justiça que deve ser feita ao pintor da "graça" feminina. Penso que Botticelli apenas era mais um apreciador da estética morfológica apresentada pela mulher toscana. No estudo que apresento vemos a Simoneta de perfil e de frente, e se compararmos a distância dos planos horizontais A e B , constatamos que a distância entre o ombro e a junção do deltóide com o pescoço é bastante idêntica à proporção entre a zona ciliar e o nível do lábio inferior que intersecta o queixo. Esta morfologia particular está igualmente presente nos outros quadros, o que me parece corroborar a evidência que de gótico, Botticelli tinha muito pouco, a não ser o pendor expressionista. Esta carga expressiva, expressionista, lembra-nos que os toscanos são herdeiros da linha e do gesto dos seus antepassados etruscos. Modigliani, igualmente toscano, é um exemplo no século XX, pois retoma de uma forma perfeitamente explícita estes gestos e esta expressividade.
segunda-feira, 24 de setembro de 2007
Caderno de Campo
Desenho de um Quercus suber no Caderno de Campo, uma fotografia da autoria do amigo e pintor Telmo Alcobia por ocasião da exposição dos alunos do Mestrado de Desenho da FBAUL com os nossos trabalhos da cadeira de Desenho Científico na Reitoria da Universidade de Lisboa, este ano.
Uma coisa que esta disciplina me ajudou a complementar de uma forma mais sistemática foi este pequeno objecto, pois o meu método de recolha de material no campo consiste em duas etapas: A primeira, pelo nascer do sol, fazer fotografia no meio do Montado até às 9.00 horas, depois com as alterações das sombras e do cromatismo da luz, aquilo a que eu chamo a tecitura atmosférica, é hora para a segunda fase de trabalho, o desenho. Pego num monte de folhas de diversos tipos de papel, ou em velhas agendas de escritório que utilizo para desenhar no local com diversos riscadores (lápis de grafite, pastel seco, lápis-de-cor) e carvão encontrado no próprio local. Carvão este recolhido de troncos de árvores carbonizados por faíscas de relâmpagos. A memória calcinada de tempestades de outros dias menos convidativos ao passeio. O Caderno de Campo é assim uma forma mais destilada, de registo, destilada pela organização da composição, da matéria do papel que lhe serve de suporte. É um complemento, uma mais valia.
Mas, confesso, vou continuar igualmente com as velhas agendas, cujo suporte, nada destilado, está contaminado de riscos, letras e velhos rabiscos, quem sabe garatujados à pressa numa qualquer noite de tempestade, de relâmpagos que prometem o sacrifício arbóreo para que eu, nos dias de sol, me deleite com o desenho.
sábado, 15 de setembro de 2007
Fotógrafo impressionista do séc.XIX
A fotografia de Eugène Cuvelier é um exemplo de como explorar o filtro natural proporcionado pelas névoas da manhã. A acentuação da forma planificada em silhueta é tanto mais notória à medida que os planos estão mais afastados do quadro do observador. Uma lição que fica de um fotógrafo que costumava trabalhar ao lado dos pintores impressionistas em Fontainebleu e com influências do paisagismo de Barbizon. As influências são notórias, pintores e fotógrafos partilhavam tertúlias e exploravam lado a lado as questões da linguagem visual.
Eugène Cuvelier's photograph is an example of how to exploit the natural filter provided by the morning mists. The accentuation of a planned fashion silhouette is all the more remarkable as the plans are furthest from the observer's frame. One lesson that remains from a photographer who used to work alongside the impressionist painters at Fontainebleau with Barbizon landscape influences. The influences are evident, painters and photographers shared gatherings and operated side by side the issues of visual language.
Eugène Cuvelier's photograph is an example of how to exploit the natural filter provided by the morning mists. The accentuation of a planned fashion silhouette is all the more remarkable as the plans are furthest from the observer's frame. One lesson that remains from a photographer who used to work alongside the impressionist painters at Fontainebleau with Barbizon landscape influences. The influences are evident, painters and photographers shared gatherings and operated side by side the issues of visual language.
sexta-feira, 14 de setembro de 2007
Lançar um livro, intervir
Ontem, 13 de Setembro, na FNAC do Forum Almada, mais uma apresentação do livro Canto de Intervenção, 1960-1974 do amigo Eduardo Raposo, apresentado pelo Engº João Paulo Ramôa. O Francisco Naia, acompanhado pelas violas de José Carita e Ricardo Fonseca, apresentou um excerto do recital evocativo de José Afonso, Adriano Correia de Oliveira e outros cantores de intervenção, baseado neste livro.
Participei ainda com um quadro como forma de enquadramento dos músicos, mas acima de tudo há pontos de contacto entre a minha pintura e o canto de Intervenção.
A leitura gera reflexões que indiciam traços comuns entre a canto de intervenção e a pintura
que reflexões?...
Escolha de um padrão de comunicação para o exterior, da música, poesia e pintura como forma de o artista elaborar o que sente, no encontro consigo próprio.
As circunstâncias de cada tempo histórico:
O Canto de intervenção com preocupação social
a pintura como preocupação sobre o património eco-histórico
O contexto do canto de intervenção na crise académica de 62. O aparecimento da balada dá continuidade ao fado de coimbra- da evolução de adaptação aos novos tempos com Zeca Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Poesia de Manuel Alegre e Manuel Freire “Pedra Filosofal”.
Curiosamente a minha pintura de sobreiros (Quercus suber) teve início na dinâmica de estudo na FBAUL e não começou exactamente de uma forma programada...também o Manuel Alegre diz “ O canto de intervenção, de subversão, que não nasceu de uma forma programada, mas porque houve um encontro de pessoas ligadas à poesia e à música”.
A árvore como Personagem:
Na pintura , na criação do meu universo está subjacente o mito de Apolo e Dafne- Bernini
A árvore como personagem, como símbolo dos ecosistemas destruídos, os fogos, a amazónia, as grandes florestas, a desertificação.
Na construção desta personagem é importante:
As artes performativas Teatro, dança.
A perspectiva parietal romana- O semi-círculo – o palco de Teatro incrementa o dramatismo da personagem, rodeada democraticamente pelos outros elementos da composição.
O conceito de instalação referencia a concepção da forma como se intervém no espaço expositivo/arquitectónico.
Há similitude entre o meu percurso da criação da imagem, com o percurso musical/poético de Tino Flores que nos anos 60 começa pelo Rock (Beatles) e envereda posteriormente pela musicalidade da música da sua região (Minho). Assim eu também estive ligado à BD na minha juventude e gradualmente entrei na pintura de árvores com a abstracção até enveredar pela escolha de um padrão de comunicação mais figurativo, nessa procura telúrica da minha região. Também em Vitorino “ A pura ligação à terra” é um padrão de comunicação.
A figuração tal como os temas musicais populares permitem ao artista libertar-se do papel vanguardista da procura da originalidade pura e dura e por vezes autofágica e enveredar por uma originalidade igualmente vanguardista, que passa pela criação de um universo semâtico (musical, pictórico, etc) pessoal num processo criativo que elabora na eterna procura do autor em se conhecer a si próprio.
Participei ainda com um quadro como forma de enquadramento dos músicos, mas acima de tudo há pontos de contacto entre a minha pintura e o canto de Intervenção.
A leitura gera reflexões que indiciam traços comuns entre a canto de intervenção e a pintura
que reflexões?...
Escolha de um padrão de comunicação para o exterior, da música, poesia e pintura como forma de o artista elaborar o que sente, no encontro consigo próprio.
As circunstâncias de cada tempo histórico:
O Canto de intervenção com preocupação social
a pintura como preocupação sobre o património eco-histórico
O contexto do canto de intervenção na crise académica de 62. O aparecimento da balada dá continuidade ao fado de coimbra- da evolução de adaptação aos novos tempos com Zeca Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Poesia de Manuel Alegre e Manuel Freire “Pedra Filosofal”.
Curiosamente a minha pintura de sobreiros (Quercus suber) teve início na dinâmica de estudo na FBAUL e não começou exactamente de uma forma programada...também o Manuel Alegre diz “ O canto de intervenção, de subversão, que não nasceu de uma forma programada, mas porque houve um encontro de pessoas ligadas à poesia e à música”.
A árvore como Personagem:
Na pintura , na criação do meu universo está subjacente o mito de Apolo e Dafne- Bernini
A árvore como personagem, como símbolo dos ecosistemas destruídos, os fogos, a amazónia, as grandes florestas, a desertificação.
Na construção desta personagem é importante:
As artes performativas Teatro, dança.
A perspectiva parietal romana- O semi-círculo – o palco de Teatro incrementa o dramatismo da personagem, rodeada democraticamente pelos outros elementos da composição.
O conceito de instalação referencia a concepção da forma como se intervém no espaço expositivo/arquitectónico.
Há similitude entre o meu percurso da criação da imagem, com o percurso musical/poético de Tino Flores que nos anos 60 começa pelo Rock (Beatles) e envereda posteriormente pela musicalidade da música da sua região (Minho). Assim eu também estive ligado à BD na minha juventude e gradualmente entrei na pintura de árvores com a abstracção até enveredar pela escolha de um padrão de comunicação mais figurativo, nessa procura telúrica da minha região. Também em Vitorino “ A pura ligação à terra” é um padrão de comunicação.
A figuração tal como os temas musicais populares permitem ao artista libertar-se do papel vanguardista da procura da originalidade pura e dura e por vezes autofágica e enveredar por uma originalidade igualmente vanguardista, que passa pela criação de um universo semâtico (musical, pictórico, etc) pessoal num processo criativo que elabora na eterna procura do autor em se conhecer a si próprio.
quarta-feira, 12 de setembro de 2007
Roma: à sombra da cidade eterna
Nos Museus Capitolinos, Musei Capitolini, senti-me a partilhar as lições de Francisco de Holanda. O seu desejo de visitar Roma era plenamente justificável.
Um homem que viveu a sua juventude em Évora, onde desenhou a partir das antigoalhas romanas, onde sonhava conhecer Roma e para onde viajou em 1538. Onde conversou com Miguel Ângelo. Eu descobri e percebi o poder da escultura romana nestes museus. Percebi o suplantar dessa escultura pelo pathos das esculturas de Bernini na galeria Borghese. Francisco de Holanda já não conheceu Bernini, mas ficaria deslumbrado. Mas da escultura e da pintura se não pode falar sem considerar como base o desenho.
Registo aqui algumas palavras de Francisco de Holanda, retiradas do seu livro "Da Pintura Antiga": E aquele que aprende para scultor ou para pintor, não cure de perder tempo em esculpir, nem pintar, nem empôr as colores muito lisas e mui perfiladas: mas solamente ponha todo o seu studo em saber desenhar.
Um homem que viveu a sua juventude em Évora, onde desenhou a partir das antigoalhas romanas, onde sonhava conhecer Roma e para onde viajou em 1538. Onde conversou com Miguel Ângelo. Eu descobri e percebi o poder da escultura romana nestes museus. Percebi o suplantar dessa escultura pelo pathos das esculturas de Bernini na galeria Borghese. Francisco de Holanda já não conheceu Bernini, mas ficaria deslumbrado. Mas da escultura e da pintura se não pode falar sem considerar como base o desenho.
Registo aqui algumas palavras de Francisco de Holanda, retiradas do seu livro "Da Pintura Antiga": E aquele que aprende para scultor ou para pintor, não cure de perder tempo em esculpir, nem pintar, nem empôr as colores muito lisas e mui perfiladas: mas solamente ponha todo o seu studo em saber desenhar.
terça-feira, 11 de setembro de 2007
Textos que o tempo tem
Textos que serviram de base ao trabalho desenvolvido na FBAUL no 4º e 5º ano da licenciatura em Artes Plásticas/Pintura:
Faculdade de Belas Artes; Lisboa; 14/11/94
Sobreiro,
Um esteio na Natureza Alentejana.De geração em geração o Homem cuida destas árvores, para que elas cuidem dele.Há uma simbiose e um paralelo entre a sua resistência e a cultura alentejana.De tempos antigos chegam-nos ecos de lendas, de visões.
Ao homem do campo, que atravessava o montado durante a noite, surgiam "aparições" de "medos". Até que ponto não seriam antropomorfizações sugeridas pelas formas dos sobreiros?...Troncos que são membros, protoberâncias que são rostos, corpos retorcidos e contorcidos.
A personificação da árvore.
Agora, em plena luz diurna, o montado ergue-se cheio de cor. Matizes que significam as várias etapas de crescimento da cortiça: Desde os recém descarnados em cores terrosas avermelhadas, passando pelos violetas, castanhos, negros, e... finalmente, os cinzas azulados que anunciam nove anos de um ciclo que se encerra. As copas são de vários tons verdes. O chão varia conforme o capricho das estações: Do verde e castanho escuro invernoso ao ocre e amarelo estival.
Em comum, perpassando por estas etapas da vida destas árvores e dos homens, o azul imenso do céu testemunha, sereno, todas estas lutas... revolto por vezes.
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Herdade do Sobralinho, 96.04.20; 18.45 h. Montemor-o-Novo.
Os primeiros passos por entre o mato foram saudados por uma breve e suave brisa que se levantou. Alguma presença, ou simples coincidência, se alegrou com a minha intromissão. Eu, que não acredito nem em Fadas nem em Gnomos da floresta, arrepiei-me todo. Estava grato e reconhecido por essa alegria e aura de uma sabedoria secular que me envolvia e observava.
Eram as formas daqueles sobreiros que olhavam para mim; protoberâncias, cascas, geometria e cor; dessas vidas que estão ali há séculos, não propriamente à minha espera, mas que se dignificam a conceder-me a sua atenção de calma e anciã inteireza.
Continuava arrepiado, e tremia na minha modesta missão de encontrar, na sua benevolente existência, aquelas formas que procurava, ou que apenas não procurava…
Ao longe, num dos montes, uma superfície banhada de luz de fim de tarde despertou, ou chamou, a minha visão/atenção.
Foi então que conheci um sobreiro com muito para dizer. É enorme, de uma robustez esmagadora e, paradoxalmente, leve e elevada. A sua forma não pode ser descrita por palavras.
Rodeei-o e admirei-o em todos os seus 360 graus enigmáticos e magníficos. Esmagou-me, senti-me um anão previlegiado em ser gigante no contacto e no diálogo que estabelecemos. Depois de fotografar as suas formas pesadamente leves e cinzentas contidas na força de oito anos de cortiça, à espera do último, para voltar a ser vermelho de terra queimada. Agradeci, e toquei respeitosamente na sua cortiça. Tremi e fiquei elevadamente esmagado pela centésima vez.
Conheci assim este Sobreiro, de sabedoria imponente, que me sussurou um segredo… Então olhei para o lado, e vi um seu filho que despontava próximo, viçoso, ainda esteva com desejo de ser um chaparrito. Apertei com cuidado as suas folhagens nos meus dedos e desejei-lhe boa sorte…
Que os homens não o esmaguem com um qualquer tractor…
Megalitismo contemporâneo
O meu amigo Manuel Calado, experiente arqueólogo, é que diz que os meus quadros sobre os menires e as antas são uma manifestação de megalitismo contemporâneo. Este que aqui partilho chama-se Cromeleque dos Almendres-Montanha suporte, é um tríptico 150 x 180 cm.
My friend Manuel Calado, experienced archaeologist, use to say that my pictures on the menhirs and dolmens are a contemporary manifestation of megaliths. This one that I share here, is called Almendres Cromlech-Mountain support, is a triptych 150 x 180 cm.
Pintura de Quercus
Quercus suber é o nome científico do sobreiro.
Na vertical dois quadros que foram a semana passada premiados em Bretigny-sur-Orge/França e que retratam esta árvore.
Em cima uma paisagem com Quercus ilex, a azinheira, também há quem lhe chame Quercus rotundifolia. Eu utilizo o primeiro por ser mais pequeno e mais prático na organização dos meus quadros. A polémica é para os biólogos, eu sou apenas ouvinte e observador.
Alheio a isso apenas me interessa retratar as árvores com quem vou dialogando.
Romper o íntimo
Dar início a um blog também é um acto de aprendizagem. Por onde começar? talvez pela constatação de que a ruptura com a intimidade não é um acto gratuito.
manifesto sobre o diálogo
Pretendo conversar sobre tudo o que se move, e com o mesmo afinco sobre tudo o que aparentemente não se move. Porque essa história das árvores estarem paradas não me convence.
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