segunda-feira, 17 de dezembro de 2007
Viagem a Florença.
Estes 5 comentários que se seguem, fazem um balanço da minha viagem à Toscânia entre 6 e 10 de Dezembro. Um balanço na perspectiva pictórica da descoberta de Florença, flor-de-lis, cidade Humanista. Mas igualmente de reencontro de amigos, desta amizade entre os que viajaram, entre os que estão, entre os que se encontram assim, humanos.
1- Em demanda de David
Esta segunda viagem a Itália faz eco da primeira a Roma pela demanda de David. Essa personagem que circum-naveguei pela primeira vez, talhado por Bernini na Galeria Borghese. Um David tenaz, convicto da sua letalidade, executado igualmente em mármore, querendo suplantar o seu antecessor: o David esculpido por Miguel Ângelo (MA). Mas a obra de MA jamais será suplantada, fui tremendamente injusto quando em Roma essa dúvida me assolou. Nenhum suplanta o outro, ambos se equiparam. Estes dois avatares de David são antinomias necessárias. A agressividade de um, face a uma esmagadora tranquilidade do outro. Em comum essa avassaladora convicção numa fé, num olhar mais distante. Retrato psicológico que nos faz implodir, que nos faz acreditar que da fraqueza humana se fazem as forças.
As cópias de David são clones espaciais de um mesmo conceito. Um, o original, no interior do Museu da Academia, que nos esmaga serenamente, pela sua dimensão. Outro, na Praça, no local original, espaço aberto que expande o olhar.
As cópias de David são clones espaciais de um mesmo conceito. Um, o original, no interior do Museu da Academia, que nos esmaga serenamente, pela sua dimensão. Outro, na Praça, no local original, espaço aberto que expande o olhar.
2-Os Uffizi, onde o tempo pára
Enquanto esperava para entrar, tive oportunidade de fazer dois desenhos das esculturas de célebres florentinos que enriquecem as fachadas deste que é o mais antigo museu do mundo. Um desenho por cada hora de espera. Lá dentro foram muitas mais as horas. Mas pareceram apenas esse par, tais eram as obras que nos assolavam ao olhar.
A Vénus de Botticelli na sua verdadeira escala. Era o que me faltava para que todas as componentes se encaixassem entropicamente no meu espírito. Espírito finalmente purificado ante aquela nudez de Simonetta, a amante de um dos Medicis e que foi a modelo do pintor. O tempo pára, Botticelli guardou para sempre a alma da bella Simonetta neste rectângulo perfeito de ouro.
Ainda não refeito desta paixão anacrónica e proibida, aqui confessada, prossigo de sala em sala onde o resto guardo para mim...
A Vénus de Botticelli na sua verdadeira escala. Era o que me faltava para que todas as componentes se encaixassem entropicamente no meu espírito. Espírito finalmente purificado ante aquela nudez de Simonetta, a amante de um dos Medicis e que foi a modelo do pintor. O tempo pára, Botticelli guardou para sempre a alma da bella Simonetta neste rectângulo perfeito de ouro.
Ainda não refeito desta paixão anacrónica e proibida, aqui confessada, prossigo de sala em sala onde o resto guardo para mim...
3- A Bienal, quase 900 pintores
É um mercado? é um labirinto cromático? não é a Bienal de Florença na Fortezza da Basso.
Perdi-me mesmo entre pintores do mundo inteiro, também fui seleccionado mas optei por não participar. Preferi ir ver para ajuizar e, quem sabe, participar daqui a dois anos. Conheci uma pintora equatoriana, Ana Maria Jáuregui da qual, e com a devida vénia, publico a foto que fiz com o seu quadro onde a Criação de Adão de Miguel Ângelo é interpretada na vertical, e não no tecto da Capela Sistina. Um personagem intervém sobre o fresco. Uma forma que a pintora encontrou para chamar a atenção sobre a questão do restauro, quais os critérios?
Outro trabalho, do qual não recolhi o nome do autor, tem a ver com um verdadeiro retrato psicológico. Mas o cromatismo dos reflexos lumínicos sobre a pele é muito interessante e um verdadeiro problema de pintura.
Outro trabalho, do qual não recolhi o nome do autor, tem a ver com um verdadeiro retrato psicológico. Mas o cromatismo dos reflexos lumínicos sobre a pele é muito interessante e um verdadeiro problema de pintura.
4- Pontedera, A mais bela flor
Na visita a Pontedera, de regresso de Pisa, fiz uma visita aos pintores Paola Iacomelli e Paolo Grigò. Amigos.
Da Paola fica a ilustração que fez para capa do livro Il fiore più bello escrito por Franco Luperini. A Paola vem colaborando com ilustrações para os livros deste escritor. Livros sobre grandes questões sociais do nosso planeta. Como a ilustradora diz na dedicatória deste exemplar que teve a amabilidade de me oferecer: “É uma coisa pequenina que fizemos em nome daquela coisa grande que é a solidariedade”
Da Paola fica a ilustração que fez para capa do livro Il fiore più bello escrito por Franco Luperini. A Paola vem colaborando com ilustrações para os livros deste escritor. Livros sobre grandes questões sociais do nosso planeta. Como a ilustradora diz na dedicatória deste exemplar que teve a amabilidade de me oferecer: “É uma coisa pequenina que fizemos em nome daquela coisa grande que é a solidariedade”
5- Pontedera, Um pintor multiforme
O pintor Paolo Grigò é um amigo de há 10 anos, quando esteve em Montemor-o-Novo, participando num simpósio de escultura em Terracota organizado pelas Oficinas do Convento. Fui ver a sua exposição intitulada Il mutiforme umanesimo, que tinha inaugurado no dia anterior, uma mostra que o Paolo assumiu como o trazer da oficina para o espaço expositivo, no sentido mais artesanal do atelier. Foi gratificante, e não sem uma pontinha de emoção, constatar o quanto o trabalho que fez em Montemor-o-Novo o influenciou nesta década. Pintor, escultor, instalador, este artista desmultiplica-se em várias modalidades expressivas. O exemplo é este quadro onde a expressão e a dinâmica de movimento que impregna no modelado das suas personagens confere uma mais valia quase atmosférica à sua composição.
terça-feira, 13 de novembro de 2007
Desenho, forma e atitude
quinta-feira, 8 de novembro de 2007
O palco
Há uma imagem com 2000 anos que influenciou a forma como represento a paisagem.Trata-se da pintura parietal romana intitulada Os Lestrigões.
Nesta pintura, que interpreta a luta entre Ulisses e esse povo canibal da Sicília, narrada na Odisseia, é visível a enseada que circunda o porto. Está representada em semi-círculo.
Esta solução da descrição da paisagem interessa-me para a minha pintura pois o semi-círculo confere uma carga dramática aos elementos representados em primeiro plano. É como se de um palco de teatro ou de dança se tratasse. Desta forma destruo a perspectiva cónica como elaboração da profundidade e reconstruo a profundidade através do arco de circunferência, desse palco no limite do plano infinito.
Nesta pintura, que interpreta a luta entre Ulisses e esse povo canibal da Sicília, narrada na Odisseia, é visível a enseada que circunda o porto. Está representada em semi-círculo.
Esta solução da descrição da paisagem interessa-me para a minha pintura pois o semi-círculo confere uma carga dramática aos elementos representados em primeiro plano. É como se de um palco de teatro ou de dança se tratasse. Desta forma destruo a perspectiva cónica como elaboração da profundidade e reconstruo a profundidade através do arco de circunferência, desse palco no limite do plano infinito.
terça-feira, 2 de outubro de 2007
Internacional de Artes Plásticas de Vendas Novas
De 27 de Outubro a 25 de Novembro decorre em Vendas Novas mais uma internacional de Artes Plásticas. O amigo José Leitão, responsável pelo evento, lançou-me o desafio de convidar alguns colegas para participarem nesta colectiva através da Galeria 9ocre.
Entre desafios que lancei responderam ao chamado as pintoras Alice Alves (França), Eve Seznec-Avet (França) e Paola Iacomelli (Itália), e os pintores Emanuel Almeida (Algarve) e Telmo Alcobia (Lisboa), para além do meu trabalho. A seguir apresento todos os trabalhos de um grupo que se pretende com alguma heterogeneidade e que se irá diluir no convívio com os restantes artistas a expôr neste salão anual.
Entre desafios que lancei responderam ao chamado as pintoras Alice Alves (França), Eve Seznec-Avet (França) e Paola Iacomelli (Itália), e os pintores Emanuel Almeida (Algarve) e Telmo Alcobia (Lisboa), para além do meu trabalho. A seguir apresento todos os trabalhos de um grupo que se pretende com alguma heterogeneidade e que se irá diluir no convívio com os restantes artistas a expôr neste salão anual.
para Vendas Novas - Alice Alves
Autora: Alice Alves
Título: Pastor "Afghan"
Técnica: Óleo sobre tela
Dimensões: 50 x 61 cm
Data: 2007
A Alice é a única pintora que seleccionei para esta exposição que não tem formação universitária. A sua formação é de escola junto de um Mestre, e de dedicado autodidactismo. Mas a sua persistência no acto da pintura faz de si uma exímia observadora. O seu referente temático tem a ver com as figuras de outros mundos sociais, que não o globalizado ocidente. Este pastor afegão é um exemplo de retrato psicológico, a valência do desenho mescla-se com a valência cromática numa pintura desenhada que elege a luz e a cor para reforçar a figura aparentemente estática. Aparência, ou ilusão de estaticismo que se dissipa pela veemência da pincelada, ora expressiva no panejamento e atmosfera, ora contida no definir das carnações do retrato e das mãos. Ilusão de estaticismo ainda dissipada pela composição que nos é oferecida pela figura, o peso do cajado à esquerda aponta para o rosto, guia o nosso olhar por entre o gesto e o olhar deste homem que nos desafia prestes a imolar-se em histórias ancestrais.
para Vendas Novas - Paola Iacomelli
Autora: Paola Iacomelli
Título: ONIROAFRICA
Técnica e suporte: Óleo sobre Tela
Técnica e suporte: Óleo sobre Tela
Dimensões: 25x25 cm
Ano: 2007
Ano: 2007
O desafio que lancei à Paola tinha a ver com o pequeno formato, conhecendo o seu trabalho ainda na verdura da recente licenciatura na Licenciatura em Belas Artes/Pintura pela “Accademia di Belle Arti di Firenze” - Florença (Itália) e conhecendo ainda os seus temas de referência: África, a sociedade mais justa, o voluntariado, os desequilíbrios desta sociedade global. Esta era uma oportunidade para uma "provocação criativa" dado que esta pintora procura uma expressão pessoal que passa pela pintura e pela militância cívica. Oniroáfrica é também um fruto do diálogo, deste diálogo interior com a sua forte consciência dos problemas deste primeiro e deste terceiro mundo. É ainda uma visão poética pela composição que se estabelece entre as formas claras e escuras, numa técnica de pintura que lembra ecos da forte e intemporal escola florentina. A Paola nasceu no meio da pintura, os seus olhos já viram tudo o que existe de imortal na Florença alma das artes, mas o seu olhar não se conforma com essas paredes históricas, o seu olhar espreita outras histórias que de longe lhe acenam do continente negro onde o pôr-do-sol é eternamente vermelho de sangue.
Para Vendas Novas - Eve Seznec-Avet
Autora: Eve Seznec-Avet
Título: Éos
Técnica: Tapeçaria
Dimensões: 120 x 191 cm
Ano: 2006
Conheci a Eve no 18º Salon d' Art em Angerville, França, uma exposição em que participámos em Abril último.Conversámos sobre Kupka, a forma da geometria como elemento de construção lírica na procura de uma poésis. Neste seu trabalho, há como que uma mimética explícita do acto do movimento do Eos, o vento, o vórtice atmosférico que estrutura ritmicamente os planos de cor .
para Vendas Novas - Telmo Alcobia
Autor: Telmo Alcobia
Título :Abençoados Sejam os Fracos…
Técnica e suporte: Esmalte acrílico sobre tela
Dimensões:120 x 85 cm
Ano:2007
Este trabalho do Telmo é bem demonstrativo do que vem realizado em termos de exploração de uma gramática visual com elementos icónicos que servem de apoio a uma forte crítica social implícita na sua expressão pictórica. A guerra é o referente criticado nesta obra. O soldado que é representado num ritmo modular é decalcado na técnica de stencil co-habitando com a restante composição em alto contraste. O soldado é despojado da sua personalidade, um número reduzido ao chavão conhecido "carne para canhão".
Título :Abençoados Sejam os Fracos…
Técnica e suporte: Esmalte acrílico sobre tela
Dimensões:120 x 85 cm
Ano:2007
Este trabalho do Telmo é bem demonstrativo do que vem realizado em termos de exploração de uma gramática visual com elementos icónicos que servem de apoio a uma forte crítica social implícita na sua expressão pictórica. A guerra é o referente criticado nesta obra. O soldado que é representado num ritmo modular é decalcado na técnica de stencil co-habitando com a restante composição em alto contraste. O soldado é despojado da sua personalidade, um número reduzido ao chavão conhecido "carne para canhão".
para Vendas Novas - Emanuel Almeida
Autor: Emanuel Almeida
Título:Estais
Técnica: Óleo sobre tela
Dimensões: 50 x 74 cm
Ano: 2007
O meu colega Emanuel escolheu um quadro de feitura recente com nítida influência do trabalho que vem realizando no Mestrado de Desenho e sobre o qual temos tidos imensas conversas. A sua pintura é expressiva prevalecendo o gesto do desenho imediato, e um automatismo pictórico na forma como organiza a mancha de cor. Retratista exímio, o artista explora neste quadro a expressão com o impacto do flagrante, um momento, um esgar de uma mímica onde se pressente a voz do movimento.
para Vendas Novas- Manuel Casa Branca
Autor: Manuel Casa Branca
Título: Chão Possível; 2; 1B; Herdade dos Padres
Técnica: Óleo sobre Tela
Dimensões: 160 x 100 cm
Nesta paisagem cada vez mais ortogonal nos limites em que nos é permitido deslocar por causa do arame farpado, escolhi o nome de Chão Possível que tem a ver com caminhos e com o problema ecológico, e de fruição da paisagem, causados pelas vedações.
segunda-feira, 1 de outubro de 2007
Exposição "Artistas Plásticos de La Raya"
A exposição "ARTISTAS PLÁSTICOS DE LA RAYA" será inaugurada em 16 de Outubro pelas 20:00 horas espanholas (19:00 de Portugal) na Sala de Exposiciones de la Diputación de Badajoz situada na C/ del Obispo, s/n em Badajoz.
Integrada numa manifestação cultural intitulada Ágora/2007 organizada pela Aupex que visa o debate transfronteiriço entre a Extremadura, a Beira-Baixa e o Alto-Alentejo, a Galeria 9ocre foi convidada a apresentar pintores que residem no Alto-Alentejo e cuja intervenção artística /pictórica seja de relevante contemporaneidade.
Foram seleccionados os trabalhos de Catherine Henke, Ward Jansen e igualmente o meu. A Catherine é da Suiça e o Ward Holandês, residem em Montemor-o-Novo há cerca de trinta anos, têm participado com a qualidade do seu trabalho, que lhes é inegavelmente reconhecida, em diversas iniciativas culturais desta zona e noutros pontos do País, sem referir obviamente o estrangeiro. Seguidamente vou apresentar os trabalhos seleccionados:
Autor: Manuel Casa Branca
Título: Quercus suber; 2; 29; Adua
Técnica: Óleo sobre tela
Dimensões: 160 x 100 cm
Integrada numa manifestação cultural intitulada Ágora/2007 organizada pela Aupex que visa o debate transfronteiriço entre a Extremadura, a Beira-Baixa e o Alto-Alentejo, a Galeria 9ocre foi convidada a apresentar pintores que residem no Alto-Alentejo e cuja intervenção artística /pictórica seja de relevante contemporaneidade.
Foram seleccionados os trabalhos de Catherine Henke, Ward Jansen e igualmente o meu. A Catherine é da Suiça e o Ward Holandês, residem em Montemor-o-Novo há cerca de trinta anos, têm participado com a qualidade do seu trabalho, que lhes é inegavelmente reconhecida, em diversas iniciativas culturais desta zona e noutros pontos do País, sem referir obviamente o estrangeiro. Seguidamente vou apresentar os trabalhos seleccionados:
Autor: Manuel Casa Branca
Título: Quercus suber; 2; 29; Adua
Técnica: Óleo sobre tela
Dimensões: 160 x 100 cm
para Badajoz - Ward Jansen
Pintura de Ward Jansen intitulada Jeronimo's Feet.
Técnica: Óleo sobre tela. Dimensão: 120 x 150 cm
Este é um dos três trabalhos que o Ward seleccionou para Badajoz.
Tive oportunidade de escrever um breve comentário sobre o seu trabalho para o catálogo:
Um grupo de quadros que têm vindo a ser construídos/pintados, camada após camada desde 1990 até 2006. Esta pintura progressiva vai deixando as marcas das diversas composições que ora se revelam, ora se ocultam. Como que um processo de sedimentação pictórica ao longo do tempo. Tempo do fazer pintura, do acto do gesto que é extensão dessas linhas de pensamento, de formas que são o seu testemunho. Redescobrir essas formas pelo cansaço do tempo, re-olhar, re-construir.
Um grupo de quadros que têm vindo a ser construídos/pintados, camada após camada desde 1990 até 2006. Esta pintura progressiva vai deixando as marcas das diversas composições que ora se revelam, ora se ocultam. Como que um processo de sedimentação pictórica ao longo do tempo. Tempo do fazer pintura, do acto do gesto que é extensão dessas linhas de pensamento, de formas que são o seu testemunho. Redescobrir essas formas pelo cansaço do tempo, re-olhar, re-construir.
domingo, 30 de setembro de 2007
para Badajoz - Catherine Henke
Pintura de Catherine Henke intitulada a Queda.
Técnica mista com pigmentos naturais sobre papel.
Dimensão: 90 x 63 cm
Este é um dos três trabalhos que pertencem à série exposta em 2004 na Galeria 21 (Évora) e que a artista seleccionou para a exposição em Badajoz.
A Catherine deu-me a oportunidade para escrever um breve comentário sobre o seu trabalho:
São pinturas com pigmentos naturais e técnica mista que exploram o tema do corpo em queda. O mito de Ícaro convive com o nosso quimérico mundo interior dos sonhos, desse vazio onírico que se situa à margem do nosso corpo consciente.
Técnica mista com pigmentos naturais sobre papel.
Dimensão: 90 x 63 cm
Este é um dos três trabalhos que pertencem à série exposta em 2004 na Galeria 21 (Évora) e que a artista seleccionou para a exposição em Badajoz.
A Catherine deu-me a oportunidade para escrever um breve comentário sobre o seu trabalho:
São pinturas com pigmentos naturais e técnica mista que exploram o tema do corpo em queda. O mito de Ícaro convive com o nosso quimérico mundo interior dos sonhos, desse vazio onírico que se situa à margem do nosso corpo consciente.
terça-feira, 25 de setembro de 2007
Conceitos de beleza
La Bella Simonetta foi a modelo que Botticelli elegeu para o seu quadro "O Nascimento de Vénus", e que vemos retratada de perfil (de vestido vermelho), numa composição claramente influenciada pela virgem pintada anos antes pelo seu mestre Lippi (de azul).
Alguns anos depois, Parmigianino dá vida à "Senhora de Pescoço Longo", num claro maneirismo.
Quando estudei em História de Arte o "Nascimento de Vénus", foi-me dito que Botticelli ainda apresentava como influência algum goticismo na resolução do pescoço elevado face ao plano dos ombros. Hoje e após algumas surpresas, não me parece que isso corresponda à justiça que deve ser feita ao pintor da "graça" feminina. Penso que Botticelli apenas era mais um apreciador da estética morfológica apresentada pela mulher toscana. No estudo que apresento vemos a Simoneta de perfil e de frente, e se compararmos a distância dos planos horizontais A e B , constatamos que a distância entre o ombro e a junção do deltóide com o pescoço é bastante idêntica à proporção entre a zona ciliar e o nível do lábio inferior que intersecta o queixo. Esta morfologia particular está igualmente presente nos outros quadros, o que me parece corroborar a evidência que de gótico, Botticelli tinha muito pouco, a não ser o pendor expressionista. Esta carga expressiva, expressionista, lembra-nos que os toscanos são herdeiros da linha e do gesto dos seus antepassados etruscos. Modigliani, igualmente toscano, é um exemplo no século XX, pois retoma de uma forma perfeitamente explícita estes gestos e esta expressividade.
segunda-feira, 24 de setembro de 2007
Caderno de Campo
Desenho de um Quercus suber no Caderno de Campo, uma fotografia da autoria do amigo e pintor Telmo Alcobia por ocasião da exposição dos alunos do Mestrado de Desenho da FBAUL com os nossos trabalhos da cadeira de Desenho Científico na Reitoria da Universidade de Lisboa, este ano.
Uma coisa que esta disciplina me ajudou a complementar de uma forma mais sistemática foi este pequeno objecto, pois o meu método de recolha de material no campo consiste em duas etapas: A primeira, pelo nascer do sol, fazer fotografia no meio do Montado até às 9.00 horas, depois com as alterações das sombras e do cromatismo da luz, aquilo a que eu chamo a tecitura atmosférica, é hora para a segunda fase de trabalho, o desenho. Pego num monte de folhas de diversos tipos de papel, ou em velhas agendas de escritório que utilizo para desenhar no local com diversos riscadores (lápis de grafite, pastel seco, lápis-de-cor) e carvão encontrado no próprio local. Carvão este recolhido de troncos de árvores carbonizados por faíscas de relâmpagos. A memória calcinada de tempestades de outros dias menos convidativos ao passeio. O Caderno de Campo é assim uma forma mais destilada, de registo, destilada pela organização da composição, da matéria do papel que lhe serve de suporte. É um complemento, uma mais valia.
Mas, confesso, vou continuar igualmente com as velhas agendas, cujo suporte, nada destilado, está contaminado de riscos, letras e velhos rabiscos, quem sabe garatujados à pressa numa qualquer noite de tempestade, de relâmpagos que prometem o sacrifício arbóreo para que eu, nos dias de sol, me deleite com o desenho.
sábado, 15 de setembro de 2007
Fotógrafo impressionista do séc.XIX
A fotografia de Eugène Cuvelier é um exemplo de como explorar o filtro natural proporcionado pelas névoas da manhã. A acentuação da forma planificada em silhueta é tanto mais notória à medida que os planos estão mais afastados do quadro do observador. Uma lição que fica de um fotógrafo que costumava trabalhar ao lado dos pintores impressionistas em Fontainebleu e com influências do paisagismo de Barbizon. As influências são notórias, pintores e fotógrafos partilhavam tertúlias e exploravam lado a lado as questões da linguagem visual.
Eugène Cuvelier's photograph is an example of how to exploit the natural filter provided by the morning mists. The accentuation of a planned fashion silhouette is all the more remarkable as the plans are furthest from the observer's frame. One lesson that remains from a photographer who used to work alongside the impressionist painters at Fontainebleau with Barbizon landscape influences. The influences are evident, painters and photographers shared gatherings and operated side by side the issues of visual language.
Eugène Cuvelier's photograph is an example of how to exploit the natural filter provided by the morning mists. The accentuation of a planned fashion silhouette is all the more remarkable as the plans are furthest from the observer's frame. One lesson that remains from a photographer who used to work alongside the impressionist painters at Fontainebleau with Barbizon landscape influences. The influences are evident, painters and photographers shared gatherings and operated side by side the issues of visual language.
sexta-feira, 14 de setembro de 2007
Lançar um livro, intervir
Ontem, 13 de Setembro, na FNAC do Forum Almada, mais uma apresentação do livro Canto de Intervenção, 1960-1974 do amigo Eduardo Raposo, apresentado pelo Engº João Paulo Ramôa. O Francisco Naia, acompanhado pelas violas de José Carita e Ricardo Fonseca, apresentou um excerto do recital evocativo de José Afonso, Adriano Correia de Oliveira e outros cantores de intervenção, baseado neste livro.
Participei ainda com um quadro como forma de enquadramento dos músicos, mas acima de tudo há pontos de contacto entre a minha pintura e o canto de Intervenção.
A leitura gera reflexões que indiciam traços comuns entre a canto de intervenção e a pintura
que reflexões?...
Escolha de um padrão de comunicação para o exterior, da música, poesia e pintura como forma de o artista elaborar o que sente, no encontro consigo próprio.
As circunstâncias de cada tempo histórico:
O Canto de intervenção com preocupação social
a pintura como preocupação sobre o património eco-histórico
O contexto do canto de intervenção na crise académica de 62. O aparecimento da balada dá continuidade ao fado de coimbra- da evolução de adaptação aos novos tempos com Zeca Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Poesia de Manuel Alegre e Manuel Freire “Pedra Filosofal”.
Curiosamente a minha pintura de sobreiros (Quercus suber) teve início na dinâmica de estudo na FBAUL e não começou exactamente de uma forma programada...também o Manuel Alegre diz “ O canto de intervenção, de subversão, que não nasceu de uma forma programada, mas porque houve um encontro de pessoas ligadas à poesia e à música”.
A árvore como Personagem:
Na pintura , na criação do meu universo está subjacente o mito de Apolo e Dafne- Bernini
A árvore como personagem, como símbolo dos ecosistemas destruídos, os fogos, a amazónia, as grandes florestas, a desertificação.
Na construção desta personagem é importante:
As artes performativas Teatro, dança.
A perspectiva parietal romana- O semi-círculo – o palco de Teatro incrementa o dramatismo da personagem, rodeada democraticamente pelos outros elementos da composição.
O conceito de instalação referencia a concepção da forma como se intervém no espaço expositivo/arquitectónico.
Há similitude entre o meu percurso da criação da imagem, com o percurso musical/poético de Tino Flores que nos anos 60 começa pelo Rock (Beatles) e envereda posteriormente pela musicalidade da música da sua região (Minho). Assim eu também estive ligado à BD na minha juventude e gradualmente entrei na pintura de árvores com a abstracção até enveredar pela escolha de um padrão de comunicação mais figurativo, nessa procura telúrica da minha região. Também em Vitorino “ A pura ligação à terra” é um padrão de comunicação.
A figuração tal como os temas musicais populares permitem ao artista libertar-se do papel vanguardista da procura da originalidade pura e dura e por vezes autofágica e enveredar por uma originalidade igualmente vanguardista, que passa pela criação de um universo semâtico (musical, pictórico, etc) pessoal num processo criativo que elabora na eterna procura do autor em se conhecer a si próprio.
Participei ainda com um quadro como forma de enquadramento dos músicos, mas acima de tudo há pontos de contacto entre a minha pintura e o canto de Intervenção.
A leitura gera reflexões que indiciam traços comuns entre a canto de intervenção e a pintura
que reflexões?...
Escolha de um padrão de comunicação para o exterior, da música, poesia e pintura como forma de o artista elaborar o que sente, no encontro consigo próprio.
As circunstâncias de cada tempo histórico:
O Canto de intervenção com preocupação social
a pintura como preocupação sobre o património eco-histórico
O contexto do canto de intervenção na crise académica de 62. O aparecimento da balada dá continuidade ao fado de coimbra- da evolução de adaptação aos novos tempos com Zeca Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Poesia de Manuel Alegre e Manuel Freire “Pedra Filosofal”.
Curiosamente a minha pintura de sobreiros (Quercus suber) teve início na dinâmica de estudo na FBAUL e não começou exactamente de uma forma programada...também o Manuel Alegre diz “ O canto de intervenção, de subversão, que não nasceu de uma forma programada, mas porque houve um encontro de pessoas ligadas à poesia e à música”.
A árvore como Personagem:
Na pintura , na criação do meu universo está subjacente o mito de Apolo e Dafne- Bernini
A árvore como personagem, como símbolo dos ecosistemas destruídos, os fogos, a amazónia, as grandes florestas, a desertificação.
Na construção desta personagem é importante:
As artes performativas Teatro, dança.
A perspectiva parietal romana- O semi-círculo – o palco de Teatro incrementa o dramatismo da personagem, rodeada democraticamente pelos outros elementos da composição.
O conceito de instalação referencia a concepção da forma como se intervém no espaço expositivo/arquitectónico.
Há similitude entre o meu percurso da criação da imagem, com o percurso musical/poético de Tino Flores que nos anos 60 começa pelo Rock (Beatles) e envereda posteriormente pela musicalidade da música da sua região (Minho). Assim eu também estive ligado à BD na minha juventude e gradualmente entrei na pintura de árvores com a abstracção até enveredar pela escolha de um padrão de comunicação mais figurativo, nessa procura telúrica da minha região. Também em Vitorino “ A pura ligação à terra” é um padrão de comunicação.
A figuração tal como os temas musicais populares permitem ao artista libertar-se do papel vanguardista da procura da originalidade pura e dura e por vezes autofágica e enveredar por uma originalidade igualmente vanguardista, que passa pela criação de um universo semâtico (musical, pictórico, etc) pessoal num processo criativo que elabora na eterna procura do autor em se conhecer a si próprio.
quarta-feira, 12 de setembro de 2007
Roma: à sombra da cidade eterna
Nos Museus Capitolinos, Musei Capitolini, senti-me a partilhar as lições de Francisco de Holanda. O seu desejo de visitar Roma era plenamente justificável.
Um homem que viveu a sua juventude em Évora, onde desenhou a partir das antigoalhas romanas, onde sonhava conhecer Roma e para onde viajou em 1538. Onde conversou com Miguel Ângelo. Eu descobri e percebi o poder da escultura romana nestes museus. Percebi o suplantar dessa escultura pelo pathos das esculturas de Bernini na galeria Borghese. Francisco de Holanda já não conheceu Bernini, mas ficaria deslumbrado. Mas da escultura e da pintura se não pode falar sem considerar como base o desenho.
Registo aqui algumas palavras de Francisco de Holanda, retiradas do seu livro "Da Pintura Antiga": E aquele que aprende para scultor ou para pintor, não cure de perder tempo em esculpir, nem pintar, nem empôr as colores muito lisas e mui perfiladas: mas solamente ponha todo o seu studo em saber desenhar.
Um homem que viveu a sua juventude em Évora, onde desenhou a partir das antigoalhas romanas, onde sonhava conhecer Roma e para onde viajou em 1538. Onde conversou com Miguel Ângelo. Eu descobri e percebi o poder da escultura romana nestes museus. Percebi o suplantar dessa escultura pelo pathos das esculturas de Bernini na galeria Borghese. Francisco de Holanda já não conheceu Bernini, mas ficaria deslumbrado. Mas da escultura e da pintura se não pode falar sem considerar como base o desenho.
Registo aqui algumas palavras de Francisco de Holanda, retiradas do seu livro "Da Pintura Antiga": E aquele que aprende para scultor ou para pintor, não cure de perder tempo em esculpir, nem pintar, nem empôr as colores muito lisas e mui perfiladas: mas solamente ponha todo o seu studo em saber desenhar.
terça-feira, 11 de setembro de 2007
Textos que o tempo tem
Textos que serviram de base ao trabalho desenvolvido na FBAUL no 4º e 5º ano da licenciatura em Artes Plásticas/Pintura:
Faculdade de Belas Artes; Lisboa; 14/11/94
Sobreiro,
Um esteio na Natureza Alentejana.De geração em geração o Homem cuida destas árvores, para que elas cuidem dele.Há uma simbiose e um paralelo entre a sua resistência e a cultura alentejana.De tempos antigos chegam-nos ecos de lendas, de visões.
Ao homem do campo, que atravessava o montado durante a noite, surgiam "aparições" de "medos". Até que ponto não seriam antropomorfizações sugeridas pelas formas dos sobreiros?...Troncos que são membros, protoberâncias que são rostos, corpos retorcidos e contorcidos.
A personificação da árvore.
Agora, em plena luz diurna, o montado ergue-se cheio de cor. Matizes que significam as várias etapas de crescimento da cortiça: Desde os recém descarnados em cores terrosas avermelhadas, passando pelos violetas, castanhos, negros, e... finalmente, os cinzas azulados que anunciam nove anos de um ciclo que se encerra. As copas são de vários tons verdes. O chão varia conforme o capricho das estações: Do verde e castanho escuro invernoso ao ocre e amarelo estival.
Em comum, perpassando por estas etapas da vida destas árvores e dos homens, o azul imenso do céu testemunha, sereno, todas estas lutas... revolto por vezes.
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Herdade do Sobralinho, 96.04.20; 18.45 h. Montemor-o-Novo.
Os primeiros passos por entre o mato foram saudados por uma breve e suave brisa que se levantou. Alguma presença, ou simples coincidência, se alegrou com a minha intromissão. Eu, que não acredito nem em Fadas nem em Gnomos da floresta, arrepiei-me todo. Estava grato e reconhecido por essa alegria e aura de uma sabedoria secular que me envolvia e observava.
Eram as formas daqueles sobreiros que olhavam para mim; protoberâncias, cascas, geometria e cor; dessas vidas que estão ali há séculos, não propriamente à minha espera, mas que se dignificam a conceder-me a sua atenção de calma e anciã inteireza.
Continuava arrepiado, e tremia na minha modesta missão de encontrar, na sua benevolente existência, aquelas formas que procurava, ou que apenas não procurava…
Ao longe, num dos montes, uma superfície banhada de luz de fim de tarde despertou, ou chamou, a minha visão/atenção.
Foi então que conheci um sobreiro com muito para dizer. É enorme, de uma robustez esmagadora e, paradoxalmente, leve e elevada. A sua forma não pode ser descrita por palavras.
Rodeei-o e admirei-o em todos os seus 360 graus enigmáticos e magníficos. Esmagou-me, senti-me um anão previlegiado em ser gigante no contacto e no diálogo que estabelecemos. Depois de fotografar as suas formas pesadamente leves e cinzentas contidas na força de oito anos de cortiça, à espera do último, para voltar a ser vermelho de terra queimada. Agradeci, e toquei respeitosamente na sua cortiça. Tremi e fiquei elevadamente esmagado pela centésima vez.
Conheci assim este Sobreiro, de sabedoria imponente, que me sussurou um segredo… Então olhei para o lado, e vi um seu filho que despontava próximo, viçoso, ainda esteva com desejo de ser um chaparrito. Apertei com cuidado as suas folhagens nos meus dedos e desejei-lhe boa sorte…
Que os homens não o esmaguem com um qualquer tractor…
Megalitismo contemporâneo
O meu amigo Manuel Calado, experiente arqueólogo, é que diz que os meus quadros sobre os menires e as antas são uma manifestação de megalitismo contemporâneo. Este que aqui partilho chama-se Cromeleque dos Almendres-Montanha suporte, é um tríptico 150 x 180 cm.
My friend Manuel Calado, experienced archaeologist, use to say that my pictures on the menhirs and dolmens are a contemporary manifestation of megaliths. This one that I share here, is called Almendres Cromlech-Mountain support, is a triptych 150 x 180 cm.
Pintura de Quercus
Quercus suber é o nome científico do sobreiro.
Na vertical dois quadros que foram a semana passada premiados em Bretigny-sur-Orge/França e que retratam esta árvore.
Em cima uma paisagem com Quercus ilex, a azinheira, também há quem lhe chame Quercus rotundifolia. Eu utilizo o primeiro por ser mais pequeno e mais prático na organização dos meus quadros. A polémica é para os biólogos, eu sou apenas ouvinte e observador.
Alheio a isso apenas me interessa retratar as árvores com quem vou dialogando.
Romper o íntimo
Dar início a um blog também é um acto de aprendizagem. Por onde começar? talvez pela constatação de que a ruptura com a intimidade não é um acto gratuito.
manifesto sobre o diálogo
Pretendo conversar sobre tudo o que se move, e com o mesmo afinco sobre tudo o que aparentemente não se move. Porque essa história das árvores estarem paradas não me convence.
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