O pintor Emanuel Almeida, meu colega da FBAUL, vai realizar uma exposição individual no centro de documentação do edifício central do Município
de Lisboa de 14 a 27 de Fevereiro, e estas são 9 das 11 obras que vão estar
expostas.
Segue o texto que escrevi para o seu catálogo:
Lisboa, a ode Atlântica
“E eu era parte de toda a gente
que partia.
A minha alma era parte do lenço
com que aquela rapariga acenava
Da janela afastando-se de
comboio...”
Nas palavras que dão início à
segunda ode de Álvaro de Campos, escutamos os sons e os gestos de quem se
afasta em viagem. De quem fica e vê partir. Lisboa tem esse encanto para
Emanuel Almeida, dali parte e para ali regressa. Assim o fez Fernando Pessoa,
assim o fez Luís Vaz de Camões.
Pintar Lisboa tem para este pintor
o fascínio do gesto e do movimento que se cristalizam na sempre luz única das
ruas, dos elétricos. No seu gesto rápido Emanuel prepara a sua viagem pessoal.
Tem o tempo todo para o fugaz flagrante de um momento. É o cheiro da cidade
condensado num gesto, numa pincelada.
No alto do seu trono criativo, o
Pintor, o Poeta, o Escritor desce a vertigem da história que quer pintar,
declamar, narrar. A narrativa da pintura de Emanuel Almeida transforma a cidade
num momento vertiginoso e paradoxalmente calmo, como um refúgio. O azul e o
amarelo ocre complementam-se em gestos gráficos e expressivos, mas também em
planos de conteúdo pictórico dinâmico. Como reverberações de luz exaladas da
parede, do chão, do estridente amarelo do elétrico. Eça de Queiroz chamava-lhe
o “Americano” que Carlos da Maia e o Ega tentavam apanhar no final da narrativa
d’ “Os Maias”.
Depois da Luz atlântica com que
nos brindou em 2013, Emanuel Almeida oferece-nos agora a sua ode.
Manuel Casa Branca