Tanto silêncio neste espaço deve-se a uma profunda introspecção criativa. Um isolamento de monge...numa espera...numa tentativa de entender a magnólia. Uma planta que descobri no velhinho jardim de Montemor e que nesta altura do ano está recolhida, transformada em pinha armada por sâmaras múltipas que escondem a sua semente rubra. Foi uma destas pinhas que recolhi, num momento de solidão, um destes dias nesse mesmo jardim.
Foi aqui no atelier que tentei perceber e explorar esta pinha que promete ser flor de novo, e que da flor é oriunda. Num perene ciclo.
Confesso que foi desajeitada, ansiosa e ávida a primeira abordagem que fiz. Tintas que deixei fluir para surpresa minha, pelo prazer puro do desenho que descobre formas novas, mas que resultaram num acidente controlado, originando formas abstractas com um potencial extraordinário para uma próxima exploração com um gesto mais preciso.
Esse gesto, controlado... aconteceu. Mais calmo e racional, tentei controlar a emotividade que teimava em fazê-lo explodir incondicionalmente, mas... agora mais seguro, controlei melhor o meu membro. Pois é com o braço e não com a mão que se desenha, de maneira a que o desenho seja o fluir emocional do nosso corpo inteiro pela forma que exploramos e não apenas um gesto preso e raquítico.
A pinha da magnólia é de difícil tratamento expressivo, difícil de entender e por isso tão bela. Espero agora a primavera para ver que flor me surpreende, que regresso e que olhar terei sobre esta planta do meu jardim de moço...