O Montado Re-montado
O muro, no mundo urbano, bem como a vedação, no mundo rural, condicionam o percurso ao delimitarem espaços e territórios.
Na paisagem, cada vez mais, a vedação de trama apertada está a impedir a passagem da fauna autóctone sendo um verdadeiro atentado ecológico, a juntar a outros mais.
Quando deambulo pelo Montado, sem constrangimentos de barreiras, posso fazer percursos orgânicos, deambular por entre as árvores que me contam histórias através dos seus troncos retorcidos. Sou participante e pertença dessas histórias.
Pelo contrário, no Montado confinado à estrada assisto ao que se passa “do outro lado”, como se de um palco se tratasse. Com as vedações limito-me a um percurso ortogonal que evoca uma organização invasiva urbana. Sou simples espectador, separado à força da narrativa.
Para este projecto escolhi desenhos do diário gráfico/caderno de campo e outros elementos gráficos, nomeadamente signos elaborados a partir de troncos de sobreiros e azinheiras e com os quais criei um alfabeto e o um conjunto de ideogramas, estes últimos obtidos com a técnica da caligrafia chinesa que aprendi há alguns anos.
Com recurso à tecnologia digital, tive como objectivo ampliar estes desenhos íntimos e misturá-los com linhas e planos de cor quadrangulares e rectangulares. Obtenho assim um conjunto de novas composições que reorganizam o desenho orgânico (árvores e megálitos) contaminado por estes elementos ortogonais (linhas e planos).
Estas montagens simples serão, ainda e sempre, uma evocação do Montado: um Re-montado.
Manuel Casa Branca
4 dos 12 painéis impressos em vinil 60 cm x 100 cm
Muro = Superfície
Muro = Superfície
A textura que encontrei reporta para o desgaste temporal, com toda uma riqueza e um ruído visualmente ensurdecedor.
Numa primeira fase decidi envolver esses desgastes texturais/temporais na dimensão exacta dos 12 painéis e intercalar em ritmos cadenciados e também condicionados pelas problemáticas que a superfície ia colocando.
Nesta fase da pintura tive a colaboração heróica, se pensarmos que estavam mais de 40ºC, da Margarida Marques e do Paulo Fatela, organizador e mentor da Bienal de Coruche.
Como se de janelas se tratassem.
Seguiu-se então a colocação ritmada dos 12 painéis...
Fim da jornada, os primeiros visitantes ocasionais ...
obrigado Paulo por esta oportunidade !
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