terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Pintura de Emanuel Almeida

O pintor Emanuel Almeida, meu colega da FBAUL, vai realizar uma exposição individual no centro de documentação do edifício central do Município de Lisboa de 14 a 27 de Fevereiro, e estas são 9 das 11 obras que vão estar expostas.


 Segue o texto que escrevi para o seu catálogo:

Lisboa, a ode Atlântica
E eu era parte de toda a gente que partia.
A minha alma era parte do lenço com que aquela rapariga acenava
Da janela afastando-se de comboio...”
Nas palavras que dão início à segunda ode de Álvaro de Campos, escutamos os sons e os gestos de quem se afasta em viagem. De quem fica e vê partir. Lisboa tem esse encanto para Emanuel Almeida, dali parte e para ali regressa. Assim o fez Fernando Pessoa, assim o fez Luís Vaz de Camões.
Pintar Lisboa tem para este pintor o fascínio do gesto e do movimento que se cristalizam na sempre luz única das ruas, dos elétricos. No seu gesto rápido Emanuel prepara a sua viagem pessoal. Tem o tempo todo para o fugaz flagrante de um momento. É o cheiro da cidade condensado num gesto, numa pincelada. 
No alto do seu trono criativo, o Pintor, o Poeta, o Escritor desce a vertigem da história que quer pintar, declamar, narrar. A narrativa da pintura de Emanuel Almeida transforma a cidade num momento vertiginoso e paradoxalmente calmo, como um refúgio. O azul e o amarelo ocre complementam-se em gestos gráficos e expressivos, mas também em planos de conteúdo pictórico dinâmico. Como reverberações de luz exaladas da parede, do chão, do estridente amarelo do elétrico. Eça de Queiroz chamava-lhe o “Americano” que Carlos da Maia e o Ega tentavam apanhar no final da narrativa d’ “Os Maias”.
Depois da Luz atlântica com que nos brindou em 2013, Emanuel Almeida oferece-nos agora a sua ode.
Manuel Casa Branca

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